quarta-feira, 12 de junho de 2019

Entre a Nissan e a Fiat: o dilema dos acionistas da Renault




A quarta-feira será decisiva para Jean-Dominique Senard, presidente da Renault. Ele deve ser alvo de intensas cobranças na reunião anual dos acionistas da companhia, em que investidores devem confirmar seu mandato como presidente do conselho. A pressão aumentou para o executivo quando sua principal ação no comando da companhia, a fusão com a Fiat Chrysler (FCA), foi cancelada na semana passada.

Anunciada no dia 27 de maio, a possível fusão entre a FCA Renault criaria a terceira maior montadora do mundo, com 8,7 milhões de vendas anuais, bem como uma economia de 5 bilhões de euros ao ano. Pela proposta, a nova empresa pertenceria em 50% aos acionistas do grupo ítalo-americano e, o restante, aos da montadora francesa.

Na equação das montadoras, uma parte importante foi ignorada: a Nissan, aliada da empresa francesa há 20 anos no mercado global. A companhia japonesa se recusou a apoiar o negócio e, por isso, o governo francês, que possui 15% das ações da Renault, pediu mais tempo para garantir seu apoio, o que fez a FCA retirar a proposta.

Quando Senard, antigo presidente da Michelin, assumiu a companhia francesa há cinco meses, ele tinha um objetivo: restabelecer as relações da empresa com a parceira japonesa, depois da prisão de Carlos Ghosn, executivo responsável pela aliança das duas montadoras, que tentava consolidar uma fusão total entre as montadoras. Com sua saída, uma crise no relacionamento entre as empresas se estabeleceu. Senard tentou reiniciar as negociações para uma fusão com a Nissan, mas quando seus planos falharam, ele apostou na FCA.

Depois que a Nissan ajudou a estragar o acordo de fusão com os ítalo-americanos, a Renault, por meio de carta enviada ao presidente da Nissan, Hiroko Saikawa, no último sábado, 8, piorou ainda mais a relação entre as duas companhias. A francesa informou que, como possui 43% das ações da montadora japonesa, iria bloquear mudanças na governança da companhia em uma votação que vai acontecer na assembleia geral de acionistas daqui a duas semanas.

Com a carta-ameaça da Renault, os franceses podem conseguir negociar com a Nissan e tentar obter um apoio para uma possível nova negociação com a FCA. Por ora, Saikawa tenta acalmar os ânimos enquanto se prepara para a reunião do conselho da Nissan no dia 25 de junho.

Nesse meio tempo, Senard terá que mostrar que consegue conciliar os interesses do grupo japonês, atrair os ítalo-americanos novamente para a mesa de negociação e garantir a aprovação do governo francês sobre o caminho adotado pela Renault. No pior cenário, a Renault fica numa relação azedada com os japoneses, mas sonhando — e só sonhando — com um casamento com os italianos.

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