quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Mansões, viagens e até sarcófagos: os detalhes da investigação que tirou Ghosn da Nissan

Em investigação interna, montadora afirma ter descoberto que o executivo ocultava parte de sua remuneração e pagava gastos luxuosos com dinheiro da empresa

Uma reforma na sua mansão em Beirute por US$ 15 milhões (R$ 56 milhões), com direito a exposição de sarcófagos, foi um dos fatores que ajudaram a levantar suspeitas sobre Carlos Ghosn, executivo da Nissan, que foi preso no Japão no fim de novembro. Uma reportagem do Wall Street Journal mostra os detalhes dos gastos luxuosos que Ghosn vinha fazendo com o dinheiro da empresa (segundo a investigação interna da Nissan), e como esta vinha crescentemente desconfiando de seus atos.Segundo pessoas próximas ao caso ouvidas pelo WSJ, a irritação da companhia com ele vinha crescendo “como um vulcão”. Isso porque imóveis, jatos particulares e outros privilégios se tornaram rotina e apenas parte de um império que Ghosn vinha expandindo às custas da Nissan.

Ghosn se mudou para Tóquio em 1999 como chefe de operações da empresa, e logo fez sucesso pela reforma administrativa implementada. O fechamento de fábricas, corte de pessoal e renegociação de contratos fizeram com que a montadora japonesa alcançasse rapidamente metas de lucro e redução de dívida, rendendo o status de gênio para o executivo “7-11”, apelido dado a ele em função das extensas jornadas de trabalho.

Isso ocorreu após uma das maiores crises da história da Nissan, que, à beira da falência, acabou salva por um pacote de US$ 5,4 bilhões (R$ 21 bilhões) da Renault, onde Ghosn trabalhava desde 1996. A empresa francesa se tornou dona de 43% da Nissan, que, de outro lado, comprou 15% da Renault. Desde então, as duas montadoras são parceiras - em uma aliança que também envolve a Mitsubishi -, e em 2005 Ghosn passou a acumular a função na Nissan com o posto de CEO da Renault.

Foi nessa época que os gastos de Ghosn, secretamente usando recursos da Nissan, teriam começado, segundo o Um apartamento de R$ 16 milhões em Paris é citado na investigação, assim como festas como a que Ghosn deu em 2016 em um castelo em Versalhes. Pessoas que estiveram presentes na ocasião relatam ao jornal americano que o ambiente contava com utensílios de ouro e pilhas de canapés “mais altas que a cabeça” dos convidados.

Outro capítulo teria envolvido um jato executivo avaliado em mais de R$ 250 milhões. Além do alto valor, lideranças da Nissan passaram a estranhar as constantes além de brasileira e francesa, Ghosn também tem nacionalidade libanesa. As idas e vindas se tornaram extremamente custosas porque envolviam algumas “passadas” no Chipre, onde o chefe preferia deixar o jato enquanto ficava no Líbano, por questões de segurança.

Também foi a Nissan que bancou a compra e reforma de uma casa na capital libanesa, estimada em R$ 58 milhões. Dois sarcófagos antigos foram encontrados escondidos durante o trabalho, e eles passaram a ser expostos junto a uma adega luxuosa na mansão. Segundo comerciantes próximos,quando Ghosn ia a Beirute, “um comboio” chegava com ele.]

Tudo isso, no entanto, só foi descoberto recentemente, quando uma investigação secreta de executivos da Nissan descobriu o que considera uma fraude fiscal por parte do brasileiro. Ghosn teria usado uma rede de empresas de fachada para bancar suas extravagâncias com o dinheiro da Nissan, além de ocultar parte de sua remuneração. Esta última parte é o que baseia a acusação formal sofrida pelo executivo na Justiça japonesa, que o mantém preso e seus bens apreendidos.

Sua família, por outro lado, diz que a prisão é parte de uma disputa pelo comando da montadora, e que os imóveis, jatos e gastos considerados excessivos são, na verdade, justificados pela importância de sua função.

A disputa envolve, inclusive, um apartamento no Rio de Janeiro, do qual a Nissan afirma ser a real proprietária. Avaliado em R$ 10 milhões, o imóvel na parte mais nobre de Copacabana teve bens como joias e obras de arte “resgatados” por representantes de Ghosn nos últimos dias.

Enquanto a Nissan demitiu Ghosn dias depois de sua prisão, o conselho da Renault ainda o mantém como CEO da empresa, por ainda não ter tido acesso à investigação. Outra parte da aliança automotiva, a Mitsubish também tirou o executivo da liderança de seu conselho administrativo.
Época negócios

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