quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Chegou a vez dos “velhinhos”! Não dos carros, mas dos motoristas acima dos 60



O Brasil está prestes a sair de uma década de “janela demográfica”, período em que há mais pessoas em idade econômica ativa do que dependentes (crianças, adolescentes, idosos e inabilitados por doença ou deficiência). Fases como essa são mais propícias para uma nação investir e crescer (não que o Brasil tenha aproveitado muito a sua janela).Além disso, tem crescido a quantidade de idosos ao volante.

Para empresas e comerciantes foi um período farto em mão de obra e potenciais compradores. Com a pirâmide etária brasileira cada vez mais parecida com a de países desenvolvidos (quase uma reta, com base bem semelhante ao topo), o que se observa é menos jovens perto de ingressar no mercado e muitos idosos se aposentando (daí a urgência na reforma de Previdência). Para quem vende carros, o recado é claro: ou as marcas começam a dar mais atenção ao público acima dos 60 anos ( idosos ao volante ), ou vão ver sua participação de mercado encolher.

A expectativa de vida sobe, adultos têm cada vez menos filhos. E os avanços da medicina fazem com que idosos tenham uma vida cada vez mais ativa. Esse contingente acima de 60 continua dirigindo, comprando carros. Mas me parece um tanto desprezado pelas montadoras e pelas concessionárias em suas ações de marketing. Ou alguém se lembra de uma propaganda de carro com idosos ao volante? São quase sempre jovens arrojados, no máximo casais na casa dos 30 anos, com filhos pequenos. Por exceção, lembro de uma campanha da Nissan com idosos pilotando um GT-R.

Carro de tiozão é quase um termo pejorativo. Um rótulo evitado até pelas marcas que mais vendem carros para “coroas”. Nas apresentações em lançamentos à imprensa, o foco é sempre o público jovem, ou pessoas bem- sucedidas (leia-se quarentões). Mas sempre de “espírito jovial”. Os fabricantes de carros perdem uma grande oportunidade de se comunicar com o público que passa dos 50, 60 anos. E que geralmente ainda tem muito prazer de dirigir, sonhos de consumo e uma longa vida pela frente, consumindo automóveis ou serviços.

Em São Paulo, projeções demográficas feitas pela Fundação Seade indicam que, em 2030, o Estado terá 9,3 milhões de idosos, aumentando dos atuais 14% para 20% do total da população. Em pouco mais de dez anos, a população com 65 anos ou mais deverá igualar-se à população com menos de 15 anos. Pesquisas também mostram jovens desinteressados pela posse de um carro, ou mesmo adiando a habilitação.

As montadoras pensam em carros para quem está saindo da faculdade, geralmente um hatch compacto. Pensam em jovens casais, que já procuram mais espaço, talvez um sedã compacto ou um SUV de menor porte. Pensam em modelos familiares, para quem tem crianças pequenas. Pensam até nas grandes famílias, com modelos de sete lugares. Pensam em carros premium, para quem começa a “subir na vida”, e em modelos de luxo para quem “chegou lá”. Mas e depois que os filhos saem de casa, quando profissionais se aposentam ou reduzem o ritmo de trabalho? Nessa fase da vida, o carro pode voltar a ser compacto, mas não pode perder em equipamentos e nível de conforto. Aposentados muitas vezes têm mais tempo e dinheiro para viajar de carro. Mas os SUVs e outros carros estradeiros parecem ser sempre voltados para jovens esportistas e aventureiros.



Há enorme potencial para montadoras que “adotarem” o público de terceira idade, sem estigmatizar o carro como “ de velho ”. Como fazer isso? Respeitando as necessidades desse público com mais itens de conforto, melhor ergonomia, mais assistentes de segurança, talvez com boa dose de automação. Com dígitos maiores no quadro de instrumento e no painel. Compactos premium e alguns SUVs menores me parecem bem adequados para esse público, talvez até mais que sedãs médios.



Além disso, as possibilidades de marketing digital podem ser uma ferramenta incrível para atingir diretamente esse público. Sem falar em programas de fidelidade que poderiam ser criados para clientes que por décadas forem fiéis a determinadas marcas. Oferecendo vantagens, mimos e até algumas regalias no atendimento nas concessionárias, evitando que idosos ao volante passem por constrangimentos no momento de revisão ou manutenção. Por que não um serviço de conciérge em caso de pane ou pneu furado? Com a bola, as montadoras que pensam no futuro (seu e dos seus clientes).

Autobuzz

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