segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 


Executivo defende regras mais claras para o setor e melhorias no processo de exportação. O ‘custo Brasil’, segundo ele, tira o apelo do que é produzido aqui e prejudica nossa competividade em âmbito global.


À frente da Nissan no Brasil desde 2017, Marco Silva enfrenta um dos principais desafios da carreira: conduzir as operações da montadora japonesa em meio à pandemia. Após registrar queda de 36% nas vendas em 2020, a empresa trabalha com previsão de alta de até 25% em 2021, puxada por um crescimento de 15% na produção total do mercado nacional – estimada em 2,3 milhões de automóveis. O executivo, no entanto, não esconde a frustração com as deficiências do País no processo de exportação. “Os problemas vão desde o aspecto burocrático até o tributário”, afirmou.

 O Brasil iniciou 2020 com a previsão de produzir 3,2 milhões de automóveis, mas fechou o ano com cerca de 2 milhões. Qual a análise da Nissan sobre esse período?

MARCO SILVA – Foi muito atípico. Para a Nissan, para a indústria automobilística, para a economia, para o mundo. Nosso planejamento estratégico geralmente pega o nosso ano fiscal, que começa em abril e termina em março. Já tínhamos o orçamento pronto. E refizemos tudo praticamente duas vezes, porque havia uma incerteza muito grande.


Quais os reflexos disso?

Quando olho para 2020, vejo que conseguimos restituir a condição que tínhamos antes da pandemia, com volumes menores e uma estrutura mais enxuta. Até porque a gente sabia das oscilações que viriam do segundo semestre e de uma demanda reprimida dos meses em que a indústria ficou parada. Estamos muito mais preparados para 2021.


Os especialistas falam em aumento de inflação, juros, desemprego… O sr. acredita que o mercado seguirá em retomada?

Quando comparo o ano todo, ano contra ano (2021 a 2020), acredito que a indústria irá produzir por volta de 2,3 milhões a 2,4 milhões de unidades, crescimento de uns 15%. Mas existe muita volatilidade no mercado, variáveis que não estão definidas. Desde a expectativa pelas reformas (tributária e administrativa, por exemplo) até a desvalorização do real, ou um potencial aumento da inflação. E saber como a economia vai reagir em meio a uma possível segunda onda da Covid-19, mas com a esperança da vacinação.



A Nissan está preparada?

Enxugamos a estrutura para poder dar frente, independentemente se há um crescimento da indústria de 15%, 20%, se ocorrer uma queda ainda mais abrupta ou uma manutenção do volume que tivemos em 2020. Prevemos crescer entre 20% e 25% em 2021. Em 2019, o mercado brasileiro foi de mais ou menos 2,7 milhões. Não vejo o ritmo voltando ao nível pré-pandemia antes de 2022.


A desvalorização do real, de cerca de 40% em um ano, pressiona os custos no Brasil para a importação de componentes. Ao mesmo tempo, é uma aliada na exportação.

Sentimos no começo uma pressão enorme com relação aos nossos custos. Impactou também nossos fornecedores e, consequentemente, no preço dos veículos. Já as exportações estão indo muito bem. Temos a Argentina como parceiro principal, apesar da queda recente nas vendas. Outro ponto importante é que abrimos a oportunidade de estudo de novos mercados, oito países da América do Sul e outros da América Central e da América Latina. Até março vamos concluir. Porque o Brasil acabou se tornando muito competitivo quando a gente transforma todo o nosso custo em real em dólar. E estamos tentando capturar essa oportunidade como potencial suporte ao nosso negócio futuro.


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“A indústria automobilística está passando por um momento de muita transformação, na qual ou nós nos reinventamos ou desaparecemos” (Crédito:Juca Varella)

Como o sr. analisa a concorrência na indústria automobilística brasileira?

Estamos com uma capacidade de produção de 5 milhões de carros por ano, mas temos uma indústria local com 2 milhões de unidades, mais exportações. A ociosidade é de 40%. Quando você coloca isso nesse mercado, o Brasil acaba sendo batido, porque está passando por um momento de muita transformação, na qual ou nós nos reinventamos ou desaparecemos.


Por quê?

Porque precisamos ter o nosso nível de eficiência. O Brasil tem de ser eficiente para o caso de, vamos supor, se o mercado cair, eu perguntar: posso exportar? Sim. Mas há uma série de deficiências no nosso sistema de exportação. E é o que faz com que a indústria automobilística no Brasil não seja competitiva em comparacão a vários mercados.


Pode dar um exemplo?

 México, que tem um custo de produção muito mais baixo. Somos os líderes no mercado mexicano com uma produção na casa de 800 mil, 1 milhão de unidades por ano. Vejo o mercado brasileiro sob pressão e não somos eficientes o suficiente na exportação. E todo mundo está vendo onde existem oportunidades para se reinventar.


Quais são as deficiências no processo de exportação?

Os problemas vão desde o aspecto burocrático, de uma série de coisas que nós temos que pagar, ao tributário. Nossa legislação é passada. Não pensa no exportador. Hoje, exportamos impostos.



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