sábado, 2 de fevereiro de 2019

Carlos Ghosn planejava demitir diretor da Nissan antes de ser preso, diz jornal






TÓQUIO - O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, deixou implícito numa entrevista à imprensa francesa que iria demitir o diretor executivo da montadora japonesa, Hiroto Saikawa, antes de sua própria prisão em 19 de novembro do ano passado, revelou o jornal britânico Financial Times (FT).
A demissão de Saikawa seria por causa dos maus resultados da Nissan, apontou Ghosn. — Quando o desempenho de uma empresa cai, nenhum diretor executivo está imune à demissão — declarou, da prisão em Tóquio.

Em entrevista anterior, ao jornal japonês Nikkei, Ghosn já havia dito que as acusações de má conduta financeira contra ele haviam sido "um complô e uma traição" de executivos da japonesa para bloquear a integração mais profunda que planejava com a francesa Renault. E, segundo o FT, Saikawa estava ciente do plano de integração, que incluía a Mitsubishi.

Antes, o relacionamento entre Ghosn e o executivo japonês já havia ficado distante, desde que o brasileiro passou a presidência da Nissan a Saikawa em 2016. Os resultados da companhia pioraram desde então, especialmente nos EUA, bem como no Japão, com problemas ligados ao controle de qualidade na produção de veículos, o que gerou escândalos.

De acordo com o FT, a margem de lucro atual da Nissan, que é de 3,6%, tornou-se a mais baixa entre as grandes montadoras mundiais, e a empresa estima que seu ganho anual vai cair 33% em relação ao ano anterior. Segundo a japonesa, entretanto, as acusações tácitas de Ghosn a Saikawa são consequência das próprias políticas do brasileiro no mercado americano, onde investiu pesadamente em incentivos para aumentar a venda de automóveis.

Depois que Ghosn foi preso, Saikawa afirmou que a companhia exagerou nas operações nos EUA, com metas agressivas para ganhar mais mercado. As declarações de Saikawa ocorreram horas antes de seu encontro marcado com o novo presidente da Renault, Jean-Dominique Senard. Ambas as empresas se dizem comprometidas a fazer a aliança funcionar e seguir em frente. Segundo Ghosn, que se disse traído, a integração que planejava seria "baseada no desempenho sólido de cada empresa". Mas os maus resultados da Nissan levaram a um desfecho inesperado.

— A performance da Nissan caiu nos últimos dois anos. Se você olhar para os resultados e os pontos fortes das três empresas, dá para ver que havia um problema. Eu não esperava o que aconteceu, mas tudo levou a uma conspiração e à traição.

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