Os carros elétricos ganham cada vez mais espaço no mercado automobilístico mundial, mas no Brasil muitos obstáculos ainda dificultam sua consolidação no mercado. Entretanto, segundo a Anfavea, os emplacamentos triplicaram em relação a 2016, passando de 1.091 híbridos e elétricos para 3.296. Isso significa que, aos poucos, as novas tecnologias estão cada vez mais se integrando à realidade dos consumidores.
Os números dos emplacamentos de carros elétricos e híbridos podem parecer pouco expressivos, se comparados ao total de quase 45 milhões de veículos que circulam no país. Entretanto, de 2016 para 2017, suas vendas cresceram 202%. Logo, o desempenho é notável, uma vez que as vendas internas totais de veículos novos aumentaram apenas 9,2%. Ao que tudo indica, o consumidor aposta na mobilidade e que os governos deverão oferecer incentivos à altura, dentro de alguns anos.
Expectativas e desafios
Segundo o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Guggisberg: “O Brasil ainda tem muito a fazer e investir, mas acredito que chegamos ao momento de crescer. Em poucos anos, o carro elétrico vai competir fortemente com o carro a combustão”.
Entretanto, isso também dependerá da infraestrutura do país, que sem postos de carregamento nas vias, toda a praticidade que a princípio é o grande atrativo dos carros elétricos se tornaria um grande pesadelo. “Com eletropostos nos principais corredores de trânsito, o usuário terá mais uma opção, além da recarga doméstica. Com isso, ele terá mais segurança na hora de escolher um veículo elétrico”, completa Guggisberg.
Outro fator que dificulta a vida dos que desejam usufruir das novas tecnologias, amigas do meio ambiente, são as altíssimas tributações. Atualmente, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) é de 25% para veículos totalmente elétricos, de 13% para híbridos e de apenas 7% para carros flex, cuja eficiência energética é consideravelmente inferior. O corte do IPI é um dos principais itens do novo programa automotivo Rota 2030, que o Governo Federal prometeu divulgar na segunda semana de maio.
Fora do Brasil, é evidente que o consumidor usufrui dos incentivos fiscais e da infraestrutura adequada. Nos países que lideram os rankings de desenvolvimento tecnológico, os governos adotam sistemas em que todos saem beneficiados com a comercialização dos veículos híbridos e elétricos.
É assim que a China, por exemplo, tornou-se o líder em vendas deste segmento em 2016, com uma frota total de 648 mil unidades. O país tem hoje 300 mil ônibus elétricos e nada menos do que 200 milhões de motos elétricas, segundo o EV Outlook 2017, do Instituto Internacional de Energia (IEA). Em seguida, os Estados Unidos, com 563 mil unidades no total.
Já a Noruega, no início do ano, anunciou que 52% dos veículos novos vendidos no país em 2017 foram elétricos ou híbridos. Essa marca histórica é o resultado de quase 30 anos seguidos de sólidas políticas de apoio aos combustíveis renováveis.
Para o presidente da ABVE, o Brasil reúne todas as condições para acelerar na mobilidade elétrica. “Assim como em outros países, o mercado nacional também reagirá rapidamente, se receber os sinais corretos, tanto das empresas quanto dos governos”. De fato, o país tem um setor automotivo forte (4% do PIB) e uma história de inovação tecnológica em transporte sustentável, desde o lançamento do Proálcool (1975). Ao mesmo tempo, tem fontes de eletricidade renovável que chegam a 81% da geração total.
Quanto às fabricantes, alguns exemplos mostram que contribuem para a consolidação dos veículos elétricos no Brasil. Por exemplo, em março deste ano, a Toyota apresentou em São Paulo o protótipo do primeiro automóvel híbrido elétrico movido a etanol do mundo: um Prius desenvolvido no Brasil. A meta global da empresa é a hibridização de todos os seus modelos até 2050.
Em 2014, a BYD – maior fabricante mundial de ônibus elétricos – instalou a sua primeira fábrica no Brasil, em Campinas. A empresa produz, também, automóveis e baterias elétricas. Já a Volkswagen, em outubro de 2017, lançou na Alemanha o seu primeiro caminhão elétrico. O veículo é produzido na fábrica da MAN Latin America em Resende (RJ), com tecnologia de tração elétrica da Eletra e motores elétricos da WEG, duas empresas 100% nacionais.
O mercado, agora, espera um pouco mais de incentivos do Poder Público. O Governo Federal já tomou boas iniciativas, como a redução do Imposto de Importação dos carros elétricos para 2% (Resolução 34 da Camex de 2016 que valeu até 31 de dezembro de 2017). Entretanto, apesar destes incentivos, a medida mais importante será o corte do IPI para os 7% previstos, com a equiparação das alíquotas dos elétricos e híbridos às dos veículos flex 1.0. A indústria aguarda essa decisão para lançar novos produtos já nos próximos meses.
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